quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dez dias se passaram...

E eu não tenho nada de útil para postar. É claro que eu podia fazer um post imenso sobre a viagem que fiz à Olímpia; todavia, escrever sobre viagens nunca foi o meu forte. Então, decidi postar um trechinho da história que eu estou tentando redigir há um bom tempo (e que eu tenho dúvidas se vou conseguir finalizar). Em todo caso, divirtam-se. Ou não. Não culpo as pessoas que se entediaram logo no segundo (enorme) parágrafo: fiquem à vontade para demonstrar seu tédio... Para si mesmos.

RAINBOW
Discórdia e sedução

Trecho do capítulo 1
Vodka, whisky e calças skinny

         Sempre o via passar por ali. Nos pés, calçava tênis estilo all star, enquanto uma calça skinny cobria-lhe as pernas, desvalorizando-as, deixando-as mais finas do que já eram. Todo o seu semblante indicava uma pessoa fraca, desde a finura de seus membros até a coloração dos cabelos, de um loiro quase branco, certamente descolorido por algum processo químico macabro, oculto por cortinas negras em um quarto de uma menina qualquer metida à cabeleireira. Passava com freqüência por mim, segurando uma garrafa de vodka, junto a um, dois, ou até mesmo três homens. Por vezes, trazia um cigarro na boca; tornava-o mais elegante, dizia. E toda vez que passava por mim, cumprimentava-me: um oi tímido, muitas vezes abafado por um beijo descarado que ganhava de um de seus parceiros. Eu respondia apenas com um aceno, já que não considerava aquela troca de gentilezas útil.
         Já não posso mentir. A presença daquele garoto de uns 14 anos pelos corredores me fazia ter uma imensa sensação de repúdio, talvez por que um dia eu tenha sido como ele. Sim, eu vivia cercado de pessoas, homens ou mulheres, que me passavam de mão em mão como um reles objeto. Era um chiclete mascado – este era meu apelido – sempre sendo usado e jogado fora. Costumava acreditar que aquilo era o melhor para mim e que aquelas pessoas me amavam, mas não era assim: amor era algo bem diferente, distante da parca relação sexual. Levei um tempo para compreender isto, e mais um pouco de tempo para me machucar nas terríveis e espinhentas videiras desse sentimento. Agora, estava de volta àquele lugar, vendo como nada mudara. Haviam me substituído por outro. E o substituiriam por outro, por outro, e assim sucessivamente. Blueville nunca deixaria de ser um lugar sórdido, certamente porque as pessoas que lá habitavam nunca foram boas. Era o pior lugar para se viver. E lá eu estava.
         Aquele lugar ainda era minha idéia mais próxima de lar, por pior que fosse. Conviver com várias pessoas de diferentes personalidades e faces era o que mais me lembrava uma família, já que eu nunca experimentara viver em uma. A minha, se é que podia se chamar assim, estava toda destroçada; minha culpa, pois eu era o problema que chegara ali, para estragar toda a harmonia pré-existente. Só existia para meu pai, minha mãe e minha irmã; o resto dos parentes mal sabia da minha existência, pois meu genitor sempre dizia a eles que eu morrera no parto.
         Refletia sobre estas coisas quando ouvi o oi tímido do rapaz. Acordei do sonho; lá estava minha realidade, cara a cara comigo, escancarando sua sordidez. Acenei para ele como fazia de costume, mal notando que ele permanecera ali, deixando seu companheiro seguir sozinho. Apenas percebi quando me senti observado; seus olhos, de íris negra, perpassaram até minha espinha, de tão profundamente que me fitava.
         _ Hey – disse ele, articulando os lábios finos em uma interjeição. Abriu a boca em um movimento surdo, sendo puxado por um homem alto e bruto, contra sua vontade. Logo, estava longe, ao fim do corredor úmido.
         _ Porra, Carlos, você acha mesmo que eu tenho o dia inteiro? – disse o acompanhante, que comprimia o garoto na parede em um movimento brusco. Deu-lhe um tapa no rosto, o qual eu ouvira de longe; podia ouvir tudo o que diziam. Continuou esbravejando febrilmente – Eu vou te dar aquela porcaria de garrafa de vodca e três maços de cigarro, você não tem o direito de ficar embromando aí!
         _ Des... – começou a dizer o mocinho, sem conseguir continuar por ter sido interrompido.
         _ Nada de desculpa, vacilão! Vem, vem logo.
         Arrastou-o para dentro de um quarto, certamente fazendo marcas vermelhas em todo o braço do menino, e fechou a porta com força, com um impacto de derrubar paredes. Bastaram alguns minutos para que os gemidos se iniciassem; gritos indefiníveis, quase animalescos. Permaneci ali por alguns instantes, escutando aquele barulho que mais parecia de tortura. Após alguns minutos, saí. Aqueles ruídos faziam me recordar de coisas desagradáveis, coisas estas que eu queria mais esquecer.

Isso nem foi um capítulo inteiro, pois este tem mais de duas páginas. Fiquei feliz que a formatação bonitinha (e gay) ficou igualzinha à que eu fiz no Word. Estou pensando em mudar o título, mas ainda não desenvolvi algo mais criativo e que tenha realmente a ver com a história.

É só isso. Até o próximo post (se ele ocorrer).